Mais uma dose? É claro que eu tô afim.

A sensação de liberdade depois de quatro doses é extremamente reconfortante. Depois de um dia cheio, sento na bancada do mesmo bar de anos atrás e peço o mesmo de sempre, mas o barman já não me reconhece mais.
- Pois não? O que quer pedir?
- O mesmo, por favor...
- O mesmo o quê?
- O mesmo de anos atrás.
- Perdão...?
- Ok. Aquele ali, da garrafa verde. Quero uma dose daquilo.
E então, a dose vem.
- Então, rapaz. A vida é assim mesmo... A gente sempre consegue tudo, menos aquilo que a gente quer.
Tenho pena do barman. Deveríamos pagar pelo tempo que eles passam no bar ouvindo histórias de bêbados tristes.
- Pois é, é assim mesmo. Vai querer mais algo?
- Por favor, outra dose... Sabe, pra esquecer os problemas.
E então, a outra dose vem.
- Ai você começa a achar que tudo que você faz é errado. Mas caaaaaaaaara, tudo que eu faço é errado! Impressionante, consigo afastar qualquer um de mim. Impressionante, impressionante... Talvez seja culpa do momento, mas veja bem... sempre sou assim. Por favor, mais uma dose, tenho mais problemas pra esquecer!
E então a terceira dose aparece.
- É engraçado, sabe? Já percebeu o quanto aquele cara me olha? Hum, se eu não fosse comprometida, amaria ele... É, acho que não sou comprometida. Agora eu amo aquele homem, barman. Ele me olhou mais uma vez, acho que ele me ama também.
- Talvez...
- Pode trazer mais uma, pra comemorar meu novo amor eterno, por favor. E que seja bom enquanto dure.
E então vem a outra dose. Doses de liberdade emocional em doses homeopáticas de álcool pra fingir que tá tudo certo. Durante as quatro doses, realmente... tá tudo certo.
Horas depois os problemas voltam, o amor desaparece pela porta da frente do bar, sem dizer uma só palavra. Então, barman... mais uma dose do líquido da garrafa verde, por favor.
Por favor.