Love, Hate, Hate, Hate, Hate, Love.

Escrevi um texto ontem, durante um temporal. Espontâneo, bem espontâneo.
Ia escrevendo, torcendo pra bateria do notebook não acabar. A luz não tinha acabado, mas acho que a idéia de ter um problema tão simples como esse me animava... Tá acabando? Ok, vamos ligar na tomada. Tão simples.
A internet não funcionava, então escrevi no bloco de notas com o intuito de colocá-lo aqui hoje quando acordasse.
Li e reli ontem. Parecia ótimo.
Acordei, li mais uma vez, procurando os erros gramaticais que sempre aparecem quando eu escrevo...
Desisti. Só isso, desisti de colocar o texto inteiro aqui... Sei lá, às vezes dá vergonha de mostrar que também tenho uns probleminhas, hehe.
Colocarei partes, então. Vai ficar meio sem sentido, talvez...
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Love, Hate, Hate, Hate, Hate, Love.

"Eu li no jornal, Ju. Ele colocou o pai na justiça por abandono. Ganhou uma nota preta... O quê é 'nota preta'?"
-E criança lê jornal?-
"Deve ser algo muito bom... Sortudo, ele... Também quero minha nota preta. Ouvi dizer que quem ganha na loteria também ganha uma nota preta. O menino do jornal tinha só dezoito e estava com uma nota preta! Que sortuuuuudo!!!!"


Um, dois, quatro, sete, nove anos. Muito tempo, muito tempo... Sem presentes. Constrangimento constante nas aulas de artes

Independente, finalmente. Okay, noventa por cento independente.

Então vem a crise... Crise? No Brasil? Isso existe? O Lula disse que não. Mas dói no bolso de todos, não dói? Ah, dói...

E sabe qual é a solução?!
Virar cem por cento independente.
E ganhar na loteria da justiça, faturar uma nota preta, porque as notas roxas começam a desbotar. ehehehe
E quando se ganha na loteria, o outro lado se ferra bonito. Muito, muito bonito. Merecido, não acham? Seria como no final de uma copa do mundo, sendo que NINGUÉM assistiu o começo e TODOS querem acompanhar o final. O goleiro de perna quebrada, o atacante sentindo dores. Dez cartões vermelhos pro time adversário (pois é, o time errou muito. A culpa é no técnico, oras)... Mas o atacante não chuta! Maldito.
Só que a criança cresce... e a coragem de criança some.

"Outra vez as coisas ficam fora do lugar
Quando então começo a me sentir em casa"

Tão exagerado...
Ou só espontâneo.

00:00

E então o exagero começa a fazer parte de mim.

Sim, o exagero. O tédio exagerado, que consome todos os dias do precioso feriado de alguns (mas não tão precioso pra mim). E o tal do mau humor matinal? Já não é tão matinal assim... quando a lua aparece eu ainda estou fazendo bico pra qualquer um que me pergunte as horas (tão exagerado).
O frio, que não é tão frio, mas eu consigo transformar ele num frio sem igual.
A saudade exagerada do tempo que passa. Tempo que passa, infelizmente... e passa tão rápido... mas logo mais falarei sobre ele, em alguma outra oportunidade.
Sinto estar exagerando quando acho que tudo é tão bonito (era só a lua!!). E quando eu me sinto sozinha, com tanta gente em volta? Exagerada, sempre querendo mais atenção (e quando recebo ela em doses maiores, sempre reclamo... sempre).

Ah, é... O exagero...

O exagero na graça que se acha. No sorriso que te dei... Poxa, nem foi tão engraçado. Fazer o quê? É isso, a graça é a gente que acha e o meu sorriso continua sendo seu (e você por acaso se importa? Acho que não).
É... É assim que estou agora, eu acho. Meio exagerada, mas ainda não estou jogada aos seus pés.

É, pois é.

Você percebe que nem tudo está tão bem quando acorda quase mal e se pergunta: "Ok, não tô legal... mas por qual motivo?"
Nem tudo tá tãão bem, e você percebe isso. Percebe que não consegue mais dormir...
Mas tá tudo tão ótimo. Sério mesmo, de verdade. Quando você não tem do que reclamar, acaba inventando. Quando EU não tenho do que reclamar, acabo sendo chata.

Eu só queria alguém pra sentar e reclamar. Ouvir reclamações... Tocar alguma música no violão. Litros de café e uma madrugada fria pra cacete, vendo as estrelas girando. Um pouco de ciúme, uma conversa interessante sobre algo que eu nunca ouvi falar. Alguém pra não falar nada (mas só durante uns dois minutos), um copo de Sprite com uma vodka barata e bastante gelo.
Só queria isso...

Mas ok...
Tô bem, feliz.
Bem feliz. :)

O pobre, imutável e rotineiro ATO Nº1:

O incansável barulho dos trens em seus trilhos ensurdercia a massa de trabalhadores que voltava para alimentar suas famílias. A noite lentamente começava a tomar conta do local. No corpo dela, as piores roupas do armário. Era só mais uma viagem rotineira, não havia motivo para qualquer arrumação fora do comum. A blusa básica, apesar do tom desbotado, caía bem sobre seu corpo e fazia do seu rosto um pouco menos pálido do que o normal. Suas calças estavam aparentemente velhas e suas meias eram laranjas, contrastando com seu par de tênis preto. Seus cabelos, como sempre, bagunçados. Sem maquiagem, sem retoques. Ela era apenas ela, sem máscaras.
Algumas pessoas esbarravam na menina enquanto ela lutava contra a multidão que vinha na direção contrária. Eles voltavam de um dia de trabalho extremamente cansativo, dava para perceber no rosto de cada um e ela ignorava todos eles, como se fossem invisíveis.
Subiu as escadas da estação. Agora ela estava parada em uma rua larga, tão lotada de pessoas quanto na rua anterior. Todos, como antes, eram invisíveis pra ela... e ela se sentia sozinha, mas isso não era um problema. Passava por todas as pessoas como alguém passa por árvores. Passava sem olhar nos olhos de ninguém. Chegou ao seu destino. Uma loja grande, antiga e extremamente feia. Era ali que ela encontraria o que faria seu mundo se tornar feliz. Coisas materiais, nada que o dinheiro não compre. Então encheu sua bolsa com a sua felicidade recém-comprada e rapidamente tomou o caminho para casa.
Voltava pela rua grande. Agora o fluxo de pessoas havia diminuído. O céu já estava escuro e cheio de estrelas. As poucas pessoas que passavam continuavam invisíveis para ela. Ela estava entediada, queria ir para casa o mais rápido possível.
Estava prestes a entrar na barulhenta estação de trem quando se deparou com uma cena que chamou a atenção. Na frente do semáforo quebrado estava ele, parado. Vestia uma blusa que fazia com que seu rosto ficasse mais bonito, apesar do tom desbotado. Suas calças eram velhas, rasgadas. Cabelos bagunçados e, em seus pés, meias laranjas. Ela poderia estar exagerando, mas sentiu, pensou, achou que ele era especial. Não perdeu tempo, se aproximou. Encostou no semáforo e ficou observando-o por alguns segundos... Era tão estranho. Ela se sentia como um animal selvagem que acabara de descobrir algo. A curiosidade era absurda. Queria saber mais sobre o rapaz que se parecia tanto com ela... Queria saber tudo. Agora só algumas poucas pessoas passavam por eles. Ele olhava para frente, como se esperasse algo. Ela olhava para ele, obsessivamente. As lojas já começavam a fechar suas portas e o barulho dos trens continuava, mas agora ele parecia muito, muito distante. Ele olhou para ela e logo percebeu que estava sendo observado. Observou-a também por longos segundos, tão curioso quanto ela. Arrumou seu cabelo, pegou lápis e papel no bolso. Desenhou algo, rapidamente e começou a andar. Instintivamente, ela o puxou pelo braço. Ele olhou para ela, confuso. Ela, sem ter o que dizer, apenas perguntou as horas.
- Nove e vinte e seis. - Respondeu ele, a observando novamente, se perdendo em seu pensamento. Sorriu e voltou a andar.
"Nove e vinte e seis. Nove e vinte e seis. Nove e vinte e seis". A mesma frase ecoava em sua mente. Agora ela sabia algo sobre o rapaz. Sua voz era linda e ela se lembraria disso por muito tempo. Se sentia feliz em ouvir a voz de um desconhecido que usava roupas iguais as suas. Parecia tão idiota, mas era o que estava acontecendo.
Pegou o celular, agora eram nove e trinta e quatro. Queria poder seguir o rapaz, perguntar seu nome... mas apenas voltou para a barulhenta estação de trem. Tinha medo de o perder, mesmo sem o ter. Tinha vontade de se amarrar a ele, dar o nó mais forte de sua vida... mas agora estava apenas voltando para casa. Durante a viagem sentiu vontade de jogar aquela felicidade comprada que estava dentro da bolsa pela janela, pois ela já não fazia com que a menina se sentisse tão feliz quanto antes.

A menina voltou na semana seguinte para a mesma rua onde cruzara com o rapaz. Vestia agora sua melhor roupa. Suas meias combinavam com o par de tênis, que estava limpo. Sua melhor calça e maquiagem pelo rosto. Nesse dia ela não comprou nada, apenas ficou no semáforo quebrado, lembrando da voz do rapaz, desejando que ele voltasse. Todo mundo que passava era invisível para ela até o momento em que a figura do garoto de meias laranjas apareceu. Ele estava lá, com roupas tão velhas quanto as da semana anterior, mas vestia as mesmas meias laranjas. Segurava em sua mão direita aquele papel com o desenho. Olhou para a menina. Pegou o papel, desapontado e o jogou no chão. Andou em direção a estação de trem e desapareceu no meio das pessoas. A menina pegou o papel, nele tinha um tosco desenho dela feito pelo rapaz. Ao lado, estava escrito "'Nove e vinte e seis', apenas o que eu consegui dizer ao ver a garota que, sem fazer nada, fez eu me sentir feliz". A voz do rapaz ecoava cada vez mais alto na mente da menina e a maquiagem agora se tornava uma máscara extremamente pesada e feia. Ela olhou para os lados, todas as pessoas eram invisíveis. Pela primeira vez ela se sentia mal por estar sozinha. Pela primeira vez ela odiava alguém por o amar tanto, mesmo sem o conhecer. (continua)

*ignore os erros*