Da vida

Um dia eu estava sentado em um balanço, pensando com os meus botões, quando chega um menininho de aparência peculiar. Um metro e trinta e poucos centímetros, cabelos tão loiros que para um velho como eu pareciam brancos como os poucos fios que habitam minha cabeça. Usava uma camiseta azul com um herói americano estampado na frente e segurava um enorme pirulito colorido, cheio de corantes artificiais e milhares de substâncias que me matariam em alguns segundos.
Ele me olhou desconfiado e sentou-se no outro balanço. Depois de alguns segundos, resolvi falar com ele.
- Então, guri. Posso saber por que você me olha assim?
- Você não acha que está grandinho para brincar de balançar, moço?
Já era de se esperar, essas crianças de hoje em dia não são tão bem educadas quanto as de uns anos atrás, não é mesmo?
- Pois então, acha que eu não posso brincar de balançar?
- Acho que não. Você sabe se balançar como eu? - Disse o garoto enquanto mostrava o quão alto conseguia chegar.
- Não sei fazer isso que você faz, mas sei muitas outras coisas.
- Sabe?
- Sei. Quer ver?
- Duvido. Você não sabe de nada...
- Pois então, sei que seu nome é Gabriel. Sei que você sabe se balançar alto e sei que esse seu pirulito faz um mal absurdo pra saúde.
- Hm... Continuo sem acreditar.
- Então me faça qualquer pergunta, guri.
- Por que os índios fazem a dança da chuva mas quando chove muito eles reclamam?
- Nada ao extremo é bom, não concorda?
- Tá bem. Por que seus cabelos são brancos?
- Não são brancos, só são mais loiros que os seus...
- Por que você tá aqui, sozinho?
Essa última pergunta me pegou de surpresa. Por que eu estava sozinho em uma praça? Era de se esperar que depois de tanto tempo eu já estivesse casado, acumulado uma vida inteira de felicidades. Então eu estaria sentado aqui, ao lado do meu neto, contando pra ele histórias de militares enquanto ele brincava com seu carrinho na caixa de areia. Sua avó estaria do meu lado e seus olhos azuis brilhariam do mesmo jeito que teriam brilhado no nosso primeiro encontro. Meu filho me ligaria perguntando se estava tudo bem com o meu netinho e eu responderia que sim. Voltaria pra casa quando o relógio marcasse meio-dia.
Mas eu estava sentado num balanço, conversando com o Gabriel, menino loiro com o pirulito sabor tutti-frutti colorido artificialmente.
- Por que você acha que estou aqui sozinho?
- Eu acho que você não sabe responder, lero lero.
- Ok, confesso. Não sei...
- Sei que não sabe, moço.
- Sabe, é?
- Uhum. Você não sabe de nada.
- Não? E você sabe de tudo, Gabriel?
Nessa hora, uma senhora se aproximou da gente e disse para o menino: - Vamos, Guilherme. Vamos almoçar.
Rindo, ele disse: - Não sei de nada. Mas você deveria parar de me chamar de Gabriel...
Jogou a embalagem do pirulito no chão. Nela estava escrito "Este produto é feito de frutas colidas a mão. Produto artesanal".
E eu que sabia de tudo, passei a não saber de nada. Apenas observei os dois indo embora. Enquanto se distanciavam, a senhora olhou pra mim. Seus olhos azuis brilhavam fitando meus cabelos brancos enquanto meu relógio apitava avisando a chegada do meio-dia.


______
Só pra não deixar morrer. :\
Desculpa os erros ortográficos \o

4 comentários:

  1. Não fugiu à regra, maravilhoso =)

    Quando foi que o mundo escapou dos nossos olhos e deixamos de saber as coisas, hein? =/

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  2. Agora que vi os marcadores... "histórias de bêbado" e "inutilidades".
    Isso é plágio fiota!!

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  3. Nossa adoro você escrevendo .
    Como adoro as "lições" que tiro de seus contos.
    Você escreve muito bem mesmo , parabéns!
    Quando foi que o mundo escapou dos nossos olhos e deixamos de saber as coisas, hein? =/ [2]

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